quinta-feira, agosto 09, 2007

ponto

Estrondo.
Respiração acelerada. Fazia frio, e ela não desejava mais ver. Seu incômodo não era específico, exatamente o que a inquietava. A interiorização, a teorização, a materialização, a ausência... Esses dias que passavam como se o relógio tivesse quebrado, o padrão sumiu... padrão?



Forte estrondo.
Mãos trêmulas. Fazia frio, e ela não desejava mais ouvir. Suspirava tentando acalmar o acaso, mas nada acalma o caos. Sentia borbulhos no estômago, reviravoltas em si. E em si permanecia, buscando os motivos da indiferença, mas era hipocrisia, pois mais que ninguém se importava...



Repetição.
Olhos arregalados. Fazia frio, mas o seu tremor tinha outro motivo. Percebia-se nua, exposta como uma criança subnutrida num programa sensacionalista, vulnerável como uma flor no deserto. Os minutos que passavam tão monotonamente agora possuiam voz, e lhe gritavam absurdos nos ouvidos, a plenos pulmões, de forma ensurdecedora... mas não ouvia.


Silêncio.
Arrepios. Fazia frio, e ela sabia que nada a esquentaria. Nem mesmo o seu desejo ardente de desistir de estar, de ser, de poder. Ela fugia e voltava, rondando em círculos, em si. Podia verificar os mesmos trejeitos de outrora, acreditando falsamente que mudava a cada tempestade. Choques. E tumores. Ela em si já não cabia, e descabida corria em frenesi como uma menina desamparada [assim era]. Enfiava sua mão goela abaixo tentando pegar a sua alma, entender sua textura, provar seu sabor, mas era tudo vazio, como sempre se sentira, como sabia que devia ser.


Passos.
Murmúrios. Fazia frio, e agora ela esperava ansiosa pelo que estava por vir. Não acreditava nas esperanças vãs de outrora, apenas esperava, como um condenado espera o momento de sua execução. Não havia saída, se fugia de si. Ela atordoava-se em escala, prolongando ondas e projeções. Idealizava aquele vazio, mas nunca aprendeu que as idealizações são fantasiosas. Sempre são lindas. E ela não era bela. Não assim...





Queda.
E todo o seu passado passou pela sua mente como um filme em preto e branco. Espantosamente gostava do que via, e se entregava àqueles poréns. Continuava buscando respostas, mas ria com gosto de tanta sujeira, o prazer a impulsionava. Percebeu em um instante tudo o que buscou e entendeu porque nunca encontrou, e desejou que nunca mais saísse daquele momento. Entropia plena.
Que assim seja.




Fazia frio, mas para ela não importava mais.




.