Faz um sol deslocado na cidade-sorriso. Os pássaros cantam com uma animação pouco típica para uma terça-feira de outono, mas mesmo assim o clima aqui é cinzento. Minhas energias estão sendo sugadas por um vórtex matinal que me consome gradativamente nesses tijolos-amarelos, nessas paredes verdes, nessas batucadas, nesses chorinhos. Nas últimas semanas, e tenho certeza que nas próximas, faz-se difícil pensar em outra coisa que não seja minha redenção espiritual, mas mi’alma se alivia por saber que tudo a partir de agora é temporário. Eu gosto de efemeridades. Me senti presa a métodos tão concretos e eternos que me assustei, tive medo de ser mais uma daquelas pessoas que passam a vida toda completamente infelizes fazendo o que não suportam, mas se sujeitam porque assim precisa ser. E às vezes precisa ser assim, simplesmente, sem mais nem menos, sem grandes pormenores ou explicações, e se passa uma vida inteira, a única que se tem, diga-se de passagem, “sendo assim” porque assim precisava ser. Pois esse acontecimento espetacularizado e supervalorizado que chamam de viver passa rápido demais para ser menosprezado em hábitos intransigentemente insatisfatórios, e eu não quero “ver a banda passar pela janela”, parafraseando Chico. E meu próximo objetivo é voltar a dormir 8 horas bem dormidas.
Clarissa Oliveira